os "três vinténs"
Esta expressão, diz o povo, "perder os três vinténs", teve origem numa pequena moeda de prata cunhada pela primeira vez, em Portugal, no reinado de D. Pedro II, e que nos reinados seguintes deixou de ser produzida, embora continuassem em circulação as cunhadas anteriormente.
Reza, então, a história que antigamente as mães ofertavam às filhas as ditas moedinhas de prata, de três vinténs (ou seja de 60 réis), a que faziam um furinho por onde passava um fio que permitia pendurá-las ao pescoço das meninas. Essa moeda funcionava como um forte amuleto que salvaguardava a pureza e a virgindade da jovem e usá-la era motivo de grande orgulho. Depois de casar, ela entregava a moedinha ao marido, ou era ele, orgulhoso, que lha tirava do pescoço para a guardar religiosamente. Só então se podia afirmar que ela já não tinha os "três vinténs", porque o marido lhos havia tirado. Estava casada e não seria mais uma menina virgem. Conta ainda a história que os rapazes mais atrevidos se aproximavam das jovens, olhando atentamente para ver se se encontrava ainda no seu pescoço a famosa moedinha e, quando não a encontravam, diziam, algo desiludidos, "já não tem os três vinténs" ou então, "já lhe tiraram os três", e assim chegavam à conclusão de que ela já era casada.
Mas existem outros "dizeres do povo" para a origem desta expressão, já que em tempos psassados já bem antigos, muitos casamentos eram resultado de arranjos familiares, algo que acontecia em todas as classes sociais. Como havia muito a discutir, desde o dote à boa conduta da noiva, tornava-se necessário um "atestado de bom comportamento", passado por uma autoridade local. Estes atestados vigoraram até à época da vigência do estado novo, ou seja até praticamente a abril de 1974.
Se a autoridade em questão tivesse dúvidas quanto à virgindade da moça, podia pedir uma certidão de virgindade, e é aqui que entra a moedinha. A certidão era passada pela parteira da terra, que fazia um teste para averiguar o estado da rapariga. -Assim, colocava uma moeda de três vinténs sobre o hímen da jovem. Se esta passasse para dentro, a jovem "chumbava". Os três vinténs serviam depois como pagamento à parteira, que, se tudo corresse bem, passava depois o Atestado de Virgindade.
Vários relatos chegaram até aos nossos dias, algumas vezes com cariz anedótico, como no caso de um que está no Arquivo Distrital de Viseu, sem data (embora se creia que seja de início do séc. XIX), que diz:
"Eu, Bárbara Emília, parteira que sou de Coira, atesto e certufico pula minha onra, que Maria de Jesus tem as partes fudengas tal e qual como nasceu, insceto umas pequenas noidas negras junto dos montes da crica, que a não serem de nascença, serão porvenientes de marradas de pissa."
Outro caso anedótico, relatado por uma parteira de Almada:
"Eu Maria da Conceição Parteira Diplomada No Concelho De Almada, Declaro Por Minha Onrra Ao Serviço Do Meu Trabalho Que Maria Das Dores Está Séria e Onrrada Têm uns Defeitos Na Coisa Mas Iso Não Quer Dizer Nada São Defeitos Feitos Pelo Trabalho."
Assim, embora não se saiba ao certo de qual destas situações veio a expressão, sabe-se que tanto a tradição da moeda de três vinténs dada por mães às filhas como a dos Atestados de Virgindade existiram mesmo e estiveram em vigor durante bastante tempo.
(compilação de textos pesquisados "in net" ) AF/20231211