25 de abril... que nunca se apaguem as memórias
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25 de abril de 1974, O dia que conduziu Portugal à Democracia. Já agora, fica aqui este resumo, em particular para aqueles que, não tendo vivido o antes, o guardem para memória futura. Lembro-me tão bem, já que me encontrava a trabalhar e as notícias não paravam de chegar.
Preparação
A primeira reunião clandestina de capitães foi realizada em Bissau, em 21 de agosto de 1973. Uma nova reunião aconteceu em 9 de setembro de 1973 no Monte Sobral (Alcáçovas) a qual dará origem ao Movimento das Forças Armadas. No dia 5 de março de 1974 é aprovado o primeiro documento do movimento: Este documento é posto a circular clandestinamente. No dia 14 de março o governo pela mão de Marcelo Caetano demite os generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, alegadamente por estes se terem recusado a participar numa cerimónia de apoio ao regime. No entanto, a verdadeira causa da expulsão dos dois Generais foi o facto do primeiro ter escrito, com a cobertura do segundo, o livro, Portugal e o Futuro, no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar.
No dia 24 de março é feita a última reunião clandestina dos capitães revoltosos e na qual se decide o derrube do regime pela força.
Movimentações militares
Eis que chega o dia 24 de abril de 1974. Um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instala secretamente o posto de comando do movimento no quartel da Pontinha, em Lisboa. Às 22h55m é transmitida a canção E depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por João Paulo Diniz. Este é um dos sinais previamente combinados pelo movimento, que desencadeia a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado. O segundo sinal é dado às 00h20m, quando a canção Grândola, Vila Morena de Zeca Afonso é transmitida pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirma o golpe e marca o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão é Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano. Ao contrário de E Depois do Adeus, que era muito popular por ter vencido o Festival RTP da Canção, já Grândola, Vila Morena fora censurada pelo regime.
O golpe militar do dia 25 de abril tem a colaboração de vários regimentos militares que desenvolvem uma acção concertada. No Norte, uma força do CICA 1 liderada pelo Tenente-Coronel Carlos de Azeredo toma o Quartel-General da Região Militar do Porto. Estas forças são reforçadas por forças vindas de Lamego. Forças do BC9 de Viana do Castelo tomam o Aeroporto de Pedras Rubras. Forças do CIOE tomam a RTP e o RCP no Porto. O regime reage, e o ministro da Defesa ordena a forças sediadas em Braga para avançarem sobre o Porto, no que não é obedecido, dado que estas já tinham aderido ao golpe militar.
À Escola Prática de Cavalaria, que parte de Santarém, cabe o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática de Cavalaria são comandadas pelo então Capitão Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço é ocupado às primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia move, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontra o chefe do governo, Marcelo Caetano, que ao final do dia se rende, exigindo, contudo, que o poder seja entregue ao General António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcelo Caetano parte, depois, para a Madeira, rumando mais tarde ao Brasil onde se exilou.
Consequências
No dia 26 de abril, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída por militares, que dará início a um governo de transição. O essencial do programa do MFA é, em síntese, resumido no programa dos três "D": Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.
Entre as medidas imediatas da revolução conta-se a extinção da polícia política (PIDE/DGS) e da Censura. Os sindicatos livres e os partidos são legalizados. No dia seguinte, a 26 de abril, começam a ser libertados os presos políticos, ao mesmo tempo que os líderes políticos da oposição no exílio começam a regressar ao País. Um semana depois, o 1.º de maio é celebrado em plena liberdade nas ruas, pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa junta-se cerca de um milhão de pessoas.
Finalmente, no dia 25 de abril de 1975, têm lugar as primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte. Na sequência dos trabalhos desta assembleia é elaborada uma nova Constituição. A constituição será finalmente aprovada em 1976 pela maioria dos deputados.
Ficará este acontecimento conhecido como a Revolução dos Cravos, pelo facto das vendedoras de flores que normalmente vendiam no Rossio, terem oferecido todos os cravos aos soldados e aos populares que a estes se juntaram, tornando no símbolo do movimento a imagem dos cravos colocadas nos canos das espingardas.
(texto adaptado de publicações públicas e livre "in net")
(a)mordaça
Nada me pode impedir
De me expressar
E quem ousar me amordaçar
Saiba que em mim há o grito
Da revolta inacabada
Por algo em que acredito...
Mesmo que em mim se mantenha
Um absurdo silêncio
Direi muito mais que muitos
Aos outros aquilo que penso
Porque em silêncio não calo
A minha grande vontade
De sempre poder falar
E sentir recompensado
Vivendo em Liberdade
Por
nunca me ter calado...
© Poema de Agnelo Ferreira