"Bem me quer... mal me quer !..."

22-10-2019

Num dos encontros em que participei, falou-se sobre os processos de adopção, e na forma como algumas das crianças e as famílias vivem esse processo.

Veio à conversa um estudo recente, sobre o facto de nos últimos três anos, algumas das crianças acolhidas em adopção, verem goradas o desejo das famílias as acolherem, devolvendo-as às instituições, como se de "peças de uso comum" se tratasse, porque "não se gosta ou não serve", como fariam numa devolução em qualquer estabelecimento comercial.

Mostra-nos esse estudo que nos últimos três anos, 53 crianças passaram por essa condição, apesar do sofrimento que isso pode envolver, com relatos de casos que nos fazem pensar seriamente, no que somos e fazemos, e no peso negativo dessas atitudes imponderadas.

Note-se algumas das condições que levaram as supostas famílias a fazê-lo:

Dizem os relatórios de família que, "as crianças são mal comportadas, e até que não são bonitas o quanto esperavam".

Casos há, em que a criança foi devolvida à instituição mais que uma vez. Uma das famílias diz mesmo, chegara à conclusão que já tinha outros "filhos", que eram os seus animais de estimação, e que as crianças perturbavam a rotina em suas casas.

Outra condição que foi falada, prende-se com a necessidade e como actuar: "Quando uma adopção é interrompida, devem todos os técnicos e envolvidos se questionar sobre todo o processo, para perceber o que falhou, porque pode ter havido algum factor de risco, ou uma causa mal avaliada ou despercebida. Mesmo após a adopção ter corrido mal, ponderar todas as possíveis falhas que podem até estar na avaliação que se fez da família, podendo esta, não corresponder ao perfil exigido, assim como também, pode estar na falha da formação que foi facultada aos candidatos, ou o apoio dado não ter sido suficiente.

Não menos importante é a possível falta de preparação da própria criança face à adopção, ao estarmos perante crianças que já por si, se sentem rejeitadas e abandonadas, que têm uma história demasiadamente marcante, que as pode levar a não aceitar uma qualquer família.

É dramático para qualquer pessoa sentir a rejeição, mas mais o é para uma criança. Tudo isto pode acontecer num período de transição, ou pré-adopção, ou acontecer passados alguns anos, já adolescentes, por problemas de comportamentos próprios da idade, os quais podem ter por base uma falta de acompanhamento familiar, ou até de estas famílias não serem elas acompanhadas.

É importante que a criança possa e saiba aceitar a nova família, mas mais importante ainda é a família não exigir que essa criança "seja um filho feito à medida, como de um molde padronizado se tratasse".

Que saibamos ter a capacidade de reflectir sobre tudo isto. 

(texto de opinião escrito à margem do novo AO)

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