Memórias do Natal dos anos 70
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Estamos no Natal, e este texto embora pessoal, lembra um pouco, alguns dos Natais da minha já "longa" vida. Assim, remeto-me aos anos 70 do séc passado, talvez porque foi essa a década em que constituí família.
Uma das coisas que guardo na memória era o saber da existência de nas principais cidades haver um enorme circo, do qual "ouvíamos falar", sim, porque não se tornava fácil a deslocação a locais, que sendo próximos para alguns, eram distantes para os demais. De entre todos, um nome me ficou na lembrança, que era o circo Mariano, muitos outros haveria, mas esse nome, retive-o sempre na memória, sobrepondo-se a todos os outros.
Momentos especiais eram aqueles que nos chegava com o programa do Natal dos Hospitais, que apesar de ainda acontecer nos dias de hoje, era tão diferente nos anos 70. Durante anos assisti sempre desejoso de ouvir o grande Raul Solnado ou o José Viana, ou a Hermínia Silva, entre outros artistas que marcaram os nossos dias. Recordo tão bem os sorteios dos televisores oferecidos pela Philips e que a sorte bafejava algumas instituições de saúde. Sim, ainda hoje será assim, mas naquele tempo era tão diferente, era contagiante todo o decorrer do espectáculo, todo ele emanava alegria e bem estar.
A empresa onde me inseri profissionalmente tinha por hábito colocar um enorme pinheiro natural no largo do ex-cinema em Pataias Gare, onde muitas lâmpadas, das mais variadas cores, contribuíam para alegrar os nossos corações e dar brilho aos nossos olhos. Naquele tempo não existia ainda o 13º mês no vencimento. Na semana antes do Natal, era-nos ofertado pela empresa, um saco com um cobertor, e uma panóplia de bens alimentares, não esquecendo o bolo rei.
As notícias corriam, dando a conhecer que algumas empresas em que existiam os contratos verticais, decidiam pagar um subsídio de Natal, o tal 13º mês, trazendo uma melhoria à qualidade de vida. Nos locais de trabalho formavam-se grupos de amigos para comprar a Lotaria do Natal, o que com alguma sorte, compensava a compra das seguintes, em que se continuava a jogar à borla até à Páscoa.
Numa família tradicional, o presépio era uma marca importante do Natal, e as prendas?... Ai as prendas... O sapatinho ou uma meia na chaminé, na esperança que pela calada da noite, lá fosse colocada alguma, a qual mesmo "pobrezinha" fazia as delícias de qualquer um.
Muitas famílias na noite de consoada iam à Missa do Galo e só se comia qualquer coisa, depois de regressar a casa, com destaque os doces.
A boa posta de Bacalhau, em muitos lares era substituída por umas caras (mais baratas) do dito cujo, e em outras de menores recursos, umas couves de azeite, com alguma carne da salgadeira, servia para comemorar.
Recordo que fazíamos a árvore de Natal, sempre assim foi. Ainda não se viam muito as árvores artificiais, pelo que a procura por um pequeno pinheiro natural de ramada fechada era o escolhido, nem que demorasse algum tempo a encontrar aquele de que mais se gostava. No mesmo se penduravam pedaços de algodão a imitar a neve, e (conforme as posses) alguns bonecos em chocolate, assim como recortes que fazíamos em papel, tal como estrelas ou outros.
Pela manhã, instalava-se o reboliço. As crianças mal acordavam, corriam para ver o que o Menino Jesus tinha deixado no sapatinho, na borda da chaminé ainda quente.
A memória que guardo, tem por base uma festa simples, relativamente modesta, onde sobressaíam as "filhoses" ou outras iguarias de menor custo feitas em casa. É isso mesmo, memórias, já que a nossa vida, essa, é feita de recordações.
Feliz Natal e bom Ano Novo