Quando o pouco fazia a Felicidade

06-02-2021

Que recordações você tem dos tempos de criança?
Lembra-se como era a sua família, os seus amigos, as suas brincadeiras? Do cheirinho do café que sua avó ou a sua mãe fazia, ou daquela broa barrada com um fio de azeite aquecido e açucarado?

E as brincadeiras tão salutares com os amigos no recreio na escola?

Avivar lembranças é colocar um sorriso em nossa face, independentemente dos momentos que cada um viveu então.

Dou comigo muita vez a revirar o "baú de infância", o qual se encontra acomodado num lugar particularmente especial do coração, porque, este baú, me leva a recuperar pedaços de uma vida que sabemos não voltar mais.

Numa época em que os meus pais não tinham posses para muito, guardo a certeza que mesmo assim nada me faltou para ser feliz...

Feliz à minha e à nossa maneira, mas imensamente feliz. Os brinquedos eram na maioria artesanais. De um lata de conserva se fazia um carrinho, de um caixote de madeira um escorrega, no qual descíamos o vale, onde no inverno corria uma regueira, que passava sob a linha do comboio no Apeadeiro e alimentava o ribeiro da Avenca.

Que vontade de voltar ao tempo onde tudo era possível, onde era feliz junto com os meus amigos e em que tudo o que era pouco nos era muito.

Jogava-se à malha, ao berlinde, ao feijão e ao botão (ai tantos ralhetes levei por arrancar os botões para jogar). Fazíamos a "mocha", atirava-se o pião, e tomávamos banho em pelota nas represas dos moinhos, depois de armar aos passaros e correr os pomares em busca de fruta às escondidas dos donos.

Particularmente tinha carinho por um carro de madeira de uma roda só, que encostava ao ombro, feito pelo "Zé Galico" da vidreira "de cima", com quem passava imenso tempo.

Com os amigos brinquei, briguei, rebolei, ri e chorei carregado de emoções em cada brincadeira, mas em que no final havia sempre um abraço.

Nesse velho baú das recordações viajo no tempo, tanta vez sem conseguir impedir que a saudade me dôa. Nesse tempo tinha tudo o que precisava, pois os amigos e as brincadeiras contribuiram tanto para ser feliz. Nele vou buscar e encontrar todas essas imagens e nas mesmas revejo muitos momentos vividos, nas brincadeiras, histórias e traquinices de uma época que não volta mais, e ali fico pensando como aproveitei cada etapa que a vida me facultou, em que o simples facto de andar à chuva pulando nas poças de água nos trazia uma alegria desmedida. São tantas as vezes que me deixo regressar àqueles lugares de outrora, onde ainda ecoa o chamamento de minha mãe:

-Anda, vem para casa que já é tarde e ainda não fizestes os deveres da escola.

E eu, à luz de um candeeiro a petróleo, ia dando sequência ao menino que mais tarde seria homem, e cujas memórias vão alimentando estes meus dias.

(texto próprio escrito à margem do novo acordo ortográfico)

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