Ser Cuidador... "parte III"
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Lembrando o que escrevi nos artigos anteriores, sobre o Cuidador, torna-se também oportuno, falar não só deste, mas também, de quem é Cuidado. Dou uma volta pelos últimos trabalhos que apresentei e cai-me a vista sobre o que leio relacionado com os idosos, sim, os idosos porque foi mais sobre eles e o apoio que eles merecem que dediquei e dedico essas/estas palavras.
Segundo a APAV, "as mulheres e os homens idosos têm os mesmos direitos que qualquer outra pessoa, independentemente da sua idade e/ou da situação de dependência. As pessoas idosas são cidadãs com plena capacidade para reger a sua pessoa e os seus bens de forma livre e autónoma."
Perante tal, pergunto: E quando essas capacidades diminuírem?
É um dever do Cuidador e um direito de quem é Cuidado. Por isso, deve o Cuidador fazer por manter, neste caso o idoso, integrado na sociedade, de modo a participar, no que está directamente ligado ao seu bem-estar, na certeza que quem cuida, ganhará imenso com a partilha dos seus conhecimentos e até habilidades que ele foi adquirindo ao longo da sua vida.
É um facto que há idosos, que também são eles próprios cuidadores, e que desse modo procuram aproveitar oportunidades de prestar serviços na comunidade e ao mesmo tempo trabalhar voluntariamente em postos apropriados aos seus interesses e capacidades, e ainda bem que assim é.
Esteja o idoso, inserido na sociedade, quer como Cuidador, ou pessoa Cuidada, deve ter por direito, acesso a serviços de saúde que os ajudem a manter e recuperar o nível óptimo de bem-estar físico, mental e emocional, assim como para prevenir ou retardar o surgimento de uma qualquer doença, assim como em qualquer dos casos ter direitos a cuidados ou tratamentos, com pleno respeito pela sua dignidade assim como, tomar decisões sobre o seu cuidado e qualidade da sua própria vida, não esquecendo o adequado apoio económico para despesas com medicamentos e/ou tratamentos necessários.
Depois há outro factor que tem um forte peso, para que esses direitos sejam tidos em pleno. Já há três ou quatro anos, estudos referenciavam que, dois em cada três idosos que precisam de cuidados, ou vivendo mesmo em lares, têm um rendimento inferior aos gastos mensais da instituição, tendo de recorrer a poupanças, quando e se as conseguiram, ou à família para conseguir pagar essas despesas
Por estranho que nos possa parecer todas estas situações e as falhas que sobre as mesmas recaem, não deixa de ser uma realidade que cerca de trinta mil idosos, que não tendo um meio de subsistência, ou quem os ajude em família, se encontrem a viver sozinhos ou isolados
Se o trabalho e dedicação do Cuidador informal é importante, não menos importante é o de quem nos Lares e outras instituições dá de si, procurando tornar mais digna a vida no dia-a-dia da pessoa idosa. As estadias nos lares mesmo públicos, são muito dispendiosas, e ainda mais se torna para o utente, se o serviço é numa entidade pública, quando sabemos que mais de um milhão de utentes pensionistas, auferem do regime geral uma parca reforma ou subsídio. A maioria destas pessoas, ou mesmo os seus familiares, não têm condições financeiras, para pagar cauções exigidas para ter um lugar disponível, ou para suportar essas mensalidades, muito menos ainda quando, além da mensalidade fixa, ainda lhes são apresentadas despesas de outros bens e serviços inerentes, assim como medicamentos e sessões de fisioterapia ou outras, e em alguns casos as próprias fraldas.
Mas, no meio de tudo isto, o que mais é preocupante é saber do abandono, ou incapacidade devida a vários factores, para os filhos ou familiares estarem presentes, numa época em que as ocupações de cada um divergem para bem longe da casa dos seus.
Em suma, falar em Direito do idoso ou utente, é falar de um tratamento, adequado, ético, respeitoso, qualificado, humanizado, por parte de quem cuida e de quem está à sua beira.
(texto de opinião de AF, escrito à margem do novo AO)