Tempos de menino

30-01-2021

Como já devem ter reparado, é frequente escrever sobre o meu tempo de criança. É provável por isso que seja questionado sobre a razão de tal, mas vos digo, faço-o não de forma nostálgica, mas tão simplesmente porque me deixa bem e feliz. Feliz porque não era preciso muito para o ser, e isso, é quase tudo para mim, senão tudo.

E é nessa sequência que mais uma vez o faço e recordo como era a vida de muitas crianças, na década de 50 e 60 do século passado, em que a maior parte do tempo e das brincadeiras eram vividas na rua e tanta vez chapinhando na lama.

Numa época em que não havia consolas, tablets ou telemóveis, em que os rádios eram poucos, e até a própria televisão era para a maioria uma miragem, não havia nada que nos prendesse em casa. Não existia o medo de colocar os pés na lama, ou mesmo de rachar a própria cabeça numa brincadeira mais afoita, ou os joelhos bem esfolados numa queda de um improvisado baloiço.

Era normal tornar-se um jogo de futebol mesmo de pé descalço, que podia culminar numa batalha campal se o resultado não corria de feição, por muito que nos cansássemos a correr atrás de uma simples bola de trapos, num espaço de terra batida, quase sempre inclinado, com duas pedras a limitar as balizas. Não existia em nós o receio de rasgar as calças (quer dizer!... haver... havia, mas nada no momento nos dizia o contrário).

Era a mais pura vontade de ser criança, brincar na rua sem grandes receios do que podia acontecer e em que a imaginação fértil liderava qualquer brincadeira.

Estivesse frio ou um calor abrasador, ou mesmo a chuva (mais que) miudinha, a diversão só acabava quando o dia chegava ao fim e o sol começava a por-se, e nós lá íamos para casa com a roupa numa desgraça e a cara cheia de terra como testemunhos de um dia como tantos outros, bem passado na rua.

Passaram os anos (muitos anos) e, tal como tudo na vida aconteceram modificações, umas para melhor, outra nem tanto, mas a vida é isso mesmo, um manancial de emoções criadas a cada momento. Se hoje é melhor ou pior? Não sei... Cada momento é diferente. A Liberdade que nos foi dada, nem sempre é usada da melhor forma, ou de acordo com os princípos mais elementares do que seria o ideal (mesmo no que respeita às brincadeiras). Viver a vida da melhor forma, em criança ou já adulto, não requer demasiado valor material, requer sim, uma simplicidade na verdadeira acepção da palavra se soubermos aproveitar o pouco que nos é dado. Mais do que uma necessidade, hoje há a preocupação em "satisfazer pedidos", quer porque se pode, quer porque se julga ser essa a melhor forma, quando no fundo, tanto podemos dar de nós aos outros, mas, sobretudo às crianças para estas serem felizes.

Saibam ser e sejam felizes também, mas sem recorrer ao consumismo desmedido.

(texto próprio escrito à margem do novo acordo ortográfico)

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